terça-feira, 25 de agosto de 2009

Seu Lunga


Tolerância zero(Ismael Gaião)Eu vou falar de Seu LungaUm cabra muito sincero,Que não tolera burriceNem gosta de lero-lero.Tem sempre boas maneiras,Mas se perguntam besteiras,Sua tolerância é zero! Ao entrar num restauranteLogo depois de sentar,Um garçom lhe perguntou:O Senhor vai almoçar?Lunga disse: não Senhor!Chame o padre, por favor,Vim aqui me confessar. Lunga tava na paradaCom Renata perto dele.Esse ônibus vai pra praia?Ela perguntou a ele.Ele, então, disse à mulher:- Só se a Senhora tiverUm biquini que dê nele!Seu Lunga tava pescandoE alguém lhe perguntou:- Você gosta de pescar?Ele logo retrucou:- Como você pode ver,Eu vim pescar sem querer,A polícia me obrigou.Pagando contas no BancoLunga viveu um dilemaPois com um talão nas mãos,Ouviu de Pedro Jurema:O Senhor vai usar cheque?- Ele disse: não, moleque,Vou escrever um poema. Em sua sucatariaAlguém tava escolhendo,- Por quanto o Senhor me dá,Essa lata com remendo?Lunga, sem pestanejar,Disse: não posso lhe dar,Porque eu estou vendendo.E ainda irritadoA seu freguês respondeu:Tudo que eu tenho aqui,Eu vendo porque é meu.Se o Senhor quiser ver,Coisas sem ser pra venderVá visitar um museu. Lunga foi comprar sapatoNa loja de BarnabéE um rapaz bem gentilPerguntou: é pra seu pé?Ele disse: não esqueça,Bote na minha cabeça,Vou usar como boné.Lunga carregava leiteNuma garrafa tampadaE um velho lhe perguntou:Bebe leite, camarada?Ele disse: bebo não!Depois derramou no chão.- Eu vou lavar a calçada. Seu Lunga tava deitadoNa cama, sem se mexer.E um amigo idiotaPerguntou, a lhe bater:- O senhor está dormindo?Lunga disse: tô fingindo,E treinando pra morrer! Seu Lunga foi a um bancoCom um cheque pra trocarUm caixa muito imbecilAchou de lhe perguntar:O Senhor quer em dinheiro?- Não quero não, companheiro,Quero em bolas de bilhar. Lunga olhou pro relógioNa frente de GabrielaQuando menos esperava,Ouviu a pergunta dela:- Lunga viu que horas são?Ele disse: não, vi não,Olhei pra ver a novela! Seu Lunga comprava esporasPara correr argolinhaE o vendedor idiotaFez essa perguntazinha:- É pra usar no cavalo?- É não, eu uso no galo,Monto e dou uma voltinha. Seu Lunga tava pescandoQuando chegou Viriato- Perguntando: aqui dá peixe?Lunga falou: é boato!No rio só dá tatu,Paca, cutia e teju,Peixe dá dentro do mato. Lunga foi se consultarCom um Doutor que era CrenteEsse logo perguntou:- O Senhor está doente?- Lunga disse: não Senhor,Vim convidar o Doutor,Para tomar aguardente.Seu Lunga, com seu cachorro,Saiu para caminharUm besta lhe perguntou:É seu cão, vai passear?Lunga sofreu um abalo,Disse: não, é um cavalo,Vou levar para montar. Lunga trazia da feira,Já em ponto de tratar,Uma cabeça de porco,Quando ouviu alguém falar:- Vai levando pra comer?Ele só fez responder:- Vou levando pra criar! Lunga foi à eletrônicaCom um som pra consertarE ouviu um idiotaSem demora, perguntar:- O seu som está quebrado?- Tá não, está estressado.Eu trouxe pra passear.Seu Lunga foi numa lojaLá perto de Itaqui- Tem veneno pra rato?- Temos o melhor daqui.Vai levá-lo? Está barato.- Vou não, vou buscar o ratoPara vim comer aqui! Seu Lunga tava bebendo,Quando ouviu de Tião:- Já que faltou energia,Nós vamos fechar irmão!Lunga falou: que desgraça!Eu vim pra tomar cachaça,Não foi tomar choque não!Lunga tava em sua lojaNuma preguiça profundaQuando escutou a perguntaVindo de Dona Raimunda:- O Senhor tem meia-calça?- Isso em você não realça,Ou você, tem meia bunda? Seu Lunga ia pescarE um amigo encontrouDepois de cumprimentá-loSeu amigo perguntou:Lunga vai à pescaria?Seu Lunga só disse: ia.Pegou a vara e quebrou. Jacó estava querendoApostar numa milharVendo Lunga numa bancaDisse: agora vou jogar!E foi gritando dali:- Lunga, passa bicho aqui?- Passa sim! Pode passar. Seu Lunga sentia dorProcurou Doutor RamonQue começou a consultaJá perguntando em bom tom:Seu Lunga, qual o seu plano?Lunga disse: sem engano,O meu plano é ficar bom! Lunga tava em seu comércioDespachando a Zé LuluQue depois de escolherFava e feijão guandu.- Disse: vou levar fubá.E o arroz como está?Lunga respondeu: Tá cru! Lunga com uma galinhaE a faca pra cortar,Seu vizinho perguntou:Oh! Seu Lunga, vai matar?Com essa pergunta burra,Disse: não, vou dar uma surra,Logo depois vou soltar. Lunga indo a um enterroEncontrou Zeca Passivo- Seu Lunga pra onde vai?Ao enterro de Biu Ivo.- E Seu Biu Ivo morreu?- Não, isso é engano seu,Vão enterrar ele vivo! Lunga mostrou um relógioAo filho de Biu Romão- Posso botar dentro d’água?Perguntou o garotão.Lunga disse sem demora:- Relógio é pra ver a hora,Não é sabonete, não!Lunga fez uma viagemPra cidade de BelémE quando voltou pra casaOuviu essa de alguém:- Oh! Seu Lunga, já chegou?- Eu não, você se enganou,Chego semana que vem! Lunga levou uma quedaDe cima de seu balcão- Quer tomar um pouco d’água?Perguntou o seu irmão.Lunga logo, respondeu:Foi só uma queda, meu!Eu não comi doce não! Na porta do elevadorEsperando ele chegarSeu Lunga escutou um bestaPro seu lado perguntar:- Vai subir nesse momento?- Não, que meu apartamento,Vai descer pra me pegar. Se encontrar com Seu LungaConverse, mas com cuidado,Pois ele pode ser grossoMesmo sendo educado.Eu já fiz o meu papelEscrevendo este cordelPra você ficar ligado!

Cultura Popular

Confira a relação das melhores curiosidades já publicadas aqui no Cultura Nordestina:
Saiba o porquê

Banda de Pifanos de Caruaru


Próximo de comemorar seus 83 anos, a Banda de Pífanos de Caruaru apresenta o show “No Século XXI, no Pátio do Forró”, e que também dá o nome ao oitavo disco do sexteto. Nele, a lendária banda de Pernambuco, retoma a trilha iniciada no álbum anterior, Tudo Isso É São João, o primeiro lançado pela Trama, que saiu em 1999.Criada pelo trabalhador rural e zabumbeiro Manoel Biano, em 1924, na região de Mata Grande (em Alagoas), a Banda de Pífanos nasceu para perpetuar a tradição da Zabumba Cabaçal, cultivada ao longo de décadas pela família Biano. Ao lado de Manoel estavam seus dois filhos: Benedito (pai de João) e Sebastião, hoje o único remanescente da formação original.Nos primeiros tempos, a banda tocava em novenas, enterros de anjos (crianças) e comemorações religiosas, enfrentando longas caminhadas para se apresentar em cidadezinhas distantes. Até que em 1939 a família Biano chegou a Caruaru, no interior pernambucano, onde decidiu se estabelecer. Com a morte de Manoel, em 1955, a zabumba foi assumida por João, o primeiro neto do fundador a integrar o grupo, então batizado oficialmente de Banda de Pífanos de Caruaru. Hoje, Amaro (surdo), José (prato) e Gilberto (tarol), todos membros da família, completam a atual formação, o sexteto.“Forró é a casa onde se dança”, ensina João Biano, explicando que, diferentemente do que pensam muitos, forró não é um ritmo musical específico, mas sim um local em que se dança diversos ritmos da música nordestina. Veio daí a inspiração para o “No Pátio do Forró”, xote composto por João e Gilberto Biano, que inspirou o título do álbum. “O Pátio do Forró”.Fiel ao espírito desse gênero, o novo álbum da Banda de Pífanos exibe em suas 14 faixas uma rica variedade de ritmos. Do arrasta-pé “Marina” (de João Biano) ao clássico xote “Vida de Viajante”, a banda contagia o ouvinte passando por cirandas, baiões e rojões.Trazendo cinco faixas que mencionam Caruaru nas letras, o novo álbum da Banda de Pífanos também não deixa de ser uma homenagem carinhosa, mesmo que indireta, à cidade pernambucana que acolheu a família Biano durante quatro décadas.Certo de que esta fase mais orientada para o forró não contraria em nada o passado musical da Banda de Pífanos, João Biano lembra que o grupo já tinha tradição nesse gênero. “Nós tocamos muitas vezes com o Luiz Gonzaga, com Jackson do Pandeiro, Anastácia, Marinês, Trio Nordestino, com todo mundo”, diz ele, referindo-se aos artistas que deram consistência a esse gênero musical. Todos eles estejam vivos ou não, certamente vão receber de braços abertos mais esse trabalho dos quase octogenários Beatles de Caruaru.O PRÊMIO TIM DE MÚSICANo dia 7 de Julho de 2005, aconteceu a segunda edição do Prêmio TIM de Música. A premiação, que ocorreu no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, incentiva a música brasileira. Na categoria regional, a Banda de Pífanos de Caruaru (artista da gravadora TRAMA) levou o prêmio de Melhor Grupo.João Biano, da Banda de Pífanos de Caruaru, disse que não esperava o prêmio, mas que foi muito especial. "Foi totalmente diferente do acostumado”. A gente recebia muitos elogios, “mas esse foi um prêmio", disse Biano. "Foi muito contagiante, uma alegria muito forte pegar o prêmio lá em cima do palco", completou o músico.Fundação de Cultura destaca premiação da Banda de Pífanos de CaruaruFonte: http://www.caruaru.pe.gov.br/interna.asp?idmat=1030A Fundação de Cultura parabeniza os integrantes da Banda de Pífanos de Caruaru pela homenagem recebida na tarde da última quarta-feira, 08, no Palácio do Planalto. O grupo foi condecorado com a entrega da Ordem do Mérito Cultural 2006, que há 12 anos premia artistas e entidades da cultura brasileira.O líder da banda, Sebastião Biano, recebeu a medalha das mãos do Presidente da República, Luiz Inácio da Silva. O tema da congratulação este ano foi Patrimônios, Memórias e Valores Brasileiros, que teve o objetivo de iniciar as comemorações dos 70 anos de criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.“É com enorme satisfação que recebemos esta notícia. A Banda de Pífanos de Caruaru representa neste momento a riqueza dos valores que nossa cidade gera. A condecoração da Ordem do Mérito Cultural revela que estes artistas, que se destacam no sul do país com a nossa música popular, mantêm suas raízes e continuam engrandecendo nossas tradições”, diz José Seródio, Presidente da Fundação de Cultura, sobre a satisfação em ter o grupo destacado na premiação.BANDA DE PÍFANOS DE CARUARUEssa história começou de longa data, em 1924, no sertão alagoano. Lá vivia o precursor de tudo isso, Manoel Clarindo Biano. Herdeiro dos instrumentos de seu pai, um bombo, um prato e dois pífanos de taboca, deu início a uma verdadeira saga.Assim, participava das festas da região, ao mesmo tempo em que repassava seus conhecimentos aos filhos, Sebastião e Benedito. Prosseguiram entre Alagoas e Pernambuco até chegarem, em 1939, à Capital do Forró e dos Pífanos: Caruaru. Passados 16 anos, a família perderia Manoel Biano. Antes de morrer, deixou a incumbência aos filhos, Sebastião e Benedito, de darem continuidade à tradição da banda que ia além, era de geração a geração. Eles então atenderam ao pedido e com seus filhos formaram a Banda de Pífanos de Caruaru, em 1955.Em 1972, a banda viria a gravar o primeiro LP, “Banda de Pífano Zabumba Caruaru”. Foi então que rumaram para São Paulo, onde participaram de documentários, espetáculos e de discos de outros artistas. Em 1973, gravaram o volume 2 de “Banda de Pífano Zabumba Caruaru”. Partiram para apresentações no exterior, onde reforçaram o valor dado, também em outros países, à cultura popular nordestina.Vítima de problemas cardíacos, um dos fundadores da banda, Benedito Biano, faleceu em 1999, em São Paulo.A banda continua e ao longo dos tempos, viria a gravar mais seis discos e com eles ser reconhecida no cenário musical nacional e internacional, como o Grammy Latino, na categoria Melhor Grupo Regional de Raiz, com o disco “Banda de Pífanos de Caruaru: No Século XXI”, em 2004.

O Sorriso da Saudade

O Sorriso da Saudade(Anizio)Sob o peso da saudade...Deixo as lágrimas cair!Triste nem sei mais sorrir,Em mim só ansiedade...Que todo meu ser invade!Nostalgia do passado...Em mim fica impregnado!Como enxerto na pele,Um mal que não se repele!Neste meu rosto marcado.Lamentando essa ausência...As lágrimas voltam a rolar!No silêncio a lamentar,Do amor sinto a presencia...Mas sofro com paciência,Vendo sorrir a saudade...Fazendo-me essa crueldade!Levando parte de mim,Querendo ver o meu fim!Expondo-me a sua maldade.E nos soluços em silêncio,Faz expulsar minhas lágrimas...Expandindo minhas mágoas!Meu coração é um vazio...Sinto este amor por um fio!Mas mesmo na ansiedade,Eu busco a felicidade...Para acalmar minha dor!Nas memórias do amor...Vive sorrindo a saudade.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Livro retrata a vida do Grande Lua


Luiz Gonzaga estava com 18 anos quando entrou para o Exército. Apesar de tocar sanfona muito bem, não sabia ler partitura. Acabou condenado a entoar corneta na banda militar. Afinal, corneteiro não precisava ler as notas e o maestro era severo: quem não entende a pauta musical não pode tocar instrumento na banda. Ironicamente, anos mais tarde Luiz Gonzaga se tornaria o sanfoneiro mais conhecido e celebrado do Brasil. Quando isso aconteceu, já era capaz de ler partitura, mas não foi com a educação formal que as raízes musicais foram plantadas. Essas sementes começaram a florescer muito antes, durante a infância em Exu (1)(PE), onde nasceu. O escritor Roniwalter Jatobá mergulhou nessa infância para escrever O jovem Luiz Gonzaga, o 10º volume da coleção Jovens Sem Fronteiras que a Editora Nova Alexandria lança na próxima semana.
A história do sanfoneiro proibido de tocar porque não lia partitura está entre as mais interessantes do livro, mas é com uma das últimas apresentações de Gonzaga que Jatobá dá início à história. Doente e debilitado pelo câncer, o compositor subiu ao palco em Senhor do Bonfim sem conseguir empunhar a sanfona. Fraco demais, apenas cantou. A cena é contada com detalhes pelo escritor. Há diálogos, pensamentos e muitas descrições, característica que se estende a todo o livro. “Tem muito diálogo para facilitar a leitura porque é uma coleção dirigida a jovens e o texto tem que ser agradável, direto. Busco mais informações por intermédio do que já foi publicado, mas me dou o direito de fantasiar um pouco nesses diálogos, porque é diferente de uma biografia, que tem que ser certinha. Ficcionalizo um pouco em cima de algumas coisas, mas não fujo dos detalhes, não mudo o que aconteceu”, avisa Jatobá, autor de O jovem JK, O jovem Che Guevara e O jovem Fidel, da mesma coleção. Após dois anos de pesquisa que incluiu, além da leitura de todas as publicações sobre o sanfoneiro, visitas aos locais por onde passou e conversas com personagens que o viram no palco, o escritor passou tudo para o papel com a intenção de ressaltar a força de vontade que sempre guiou o músico. “Tento mostrar ao jovem o que o biografado fez para alcançar seus objetivos. No caso do Gonzaga, mostro as dificuldades, mas também a força de vontade que, se ele não tivesse, não teria conseguido tudo o que conseguiu.”

Essência
No entanto, o escritor não se prende a roteiros cronológicos. A leveza de O jovem Luiz Gonzaga vem dos saltos no tempo praticados pelo autor, que narra como se estivesse presente nas cenas descritas e devota especial atenção à infância do sanfoneiro. “O mais importante foi a vivência dele em Exu, onde conseguiu captar toda a essência de sua vida. Essa primeira infância foi fundamental. Ele aprendeu a tocar enquanto escutava o pai e depois usou isso na sua música. Em outro momento importante, ele foge de casa e vai para o Exército. Lá, aprendeu alguma coisa no sentido de conhecer o mundo e viajou muito pelo Brasil.” Mais tarde veio o sucesso. Para consegui-lo, Gonzaga percorreu caminhos tort
os. No Rio, participava de concursos de rádio como sanfoneiro. Não tocava o forró pé-de-serra, sua marca e melhor performance, mas um repertório colhido em outros universos. Tango e outros ritmos costumavam pautar suas apresentações até resolver mostrar as suas raízes nordestinas. Foi então que o nome de Luiz Gonzaga ganhou o Brasil.

sucesso veio acompanhado de altos e baixos. Jatobá conta que o sanfoneiro nunca entrou em baixa no Nordeste. Nas metrópoles, era diferente. Se não estivesse na mídia, acabava ignorado. “De repente ele desaparecia e depois reaparecia. Nos anos 1970, as universidades redescobriram Gonzagão, mas o auge foi nos anos 1950 e 1960. Mesmo assim, ele sempre viajava pelo interior do país, tocava em cinema, praça pública, circo, onde tivesse lugar para se apresentar.” O mais precioso na figura do compositor, no entanto, era generosidade. “Era um cara brincalhão e solidário com todo mundo. Não deixou grandes fortunas porque dava tudo. Se encontrava um cara com talento tocando nas feiras, mandava ele para a própria casa, no Rio. E tinha uma preocupação muito grande com a sua cidade de origem.”
» 1 - EXU
Gonzaga nasceu em dezembro de 1912 na fazenda Caiçara, no município de Exu, interior de Pernambuco. Hoje a casa é um museu e Exu abriga um centro cultural chamado Asa Branca, em homenagem à música mais conhecida do compositor.
» Leia trecho do livro O jovem Luiz Gonzaga
"Manhã de sábado, 18 de junho de 1988. Uma camioneta Chevrolet Veraneio 1984, de cor bege, cruza a ponte Presidente Dutra – a divisa das cidades de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia. Sopra um vento frio vindo das margens do rio São Francisco, de época de inverno, mas o calor que chega de outra direção, das terras áridas da caatinga, ao norte, logo vai aquecer o asfalto da estrada de rodagem.
Os cinco passageiros que lotam o veículo são músicos. Entre eles está Luiz Gonzaga, o mais famoso sanfoneiro do país, que vai se apresentar à noite na abertura das festas juninas de Senhor do Bonfim, a cerca de 120 quilômetros de distância. A Veraneio segue devagar. Desde que sofrera dois acidentes de carro, muitos anos atrás, Gonzaga sempre reclama quando o motorista pisa forte no acelerador.
Depois da ponte Presidente Dutra, já em terras da Bahia, a Veraneio entra na BR-407. O carro roda deixando para trás a cidade de Juazeiro. Sentindo um ligeiro mal-estar, Gonzaga aprecia a paisagem à beira da estrada, ali de extrema penúria.
– Aqui é pior do que Exu – comenta.
Um dos músicos gargalha. – Pensa que é brincadeira?
A estrada corta o meio da caatinga, de vegetação árida, de solo seco e pedregoso. De vez em quando, se vê um bode ou uma cabra que pasta perto do acostamento ou um raro pássaro em busca de água e comida.
– Se Exu fosse assim eu não teria sobrevivido – diz Gonzaga.
O carro passa por um entroncamento, à esquerda, que segue para as minas de cobre da Caraíba Metais.
– Por ali dá para se chegar a Euclides da Cunha. E também em Canudos, terra do Conselheiro – ensina Gonzaga, que conhecia meio mundo – Sem asfalto, estrada de terra.
Bem mais adiante, os passageiros cruzam com a pequena cidade de Jaguarari, próxima a Senhor do Bonfim.
Dali em diante, a natureza muda de água para vinho. Em lugar de chão pedregoso e vegetação catingueira, surgem terras férteis, morros verdejantes, nessa hora cobertos de nuvens de chuva.
– Exu é assim – diz Gonzaga, depois gargalha e aponta o dedo para o agrupamento de morros e grotas da serra do Gado Bravo, extensão da Chapada Diamantina, na cordilheira do Espinhaço, e segue em direção a Minas Gerais.
– Pé de serra.
A Veraneio passa pela rodoviária de Senhor do Bonfim.
– O movimento aqui já está grande – diz um dos músicos. – À noite o show vai lotar – completa Gonzaga.